Os 7 pecados da gravidez
Gula,
ira, soberba, preguiça, vaidade, avareza e luxúria. Com certeza você já ouviu
falar sobre os sete pecados capitais. Criados pela Igreja Católica no final do
século XI, já viraram tema de livros, filmes e novelas. Você pode se perguntar:
“Mas o que isso tem a ver com a gravidez?” Tudo! É possível enxergar cada um
dos pecados em meio a todas as transformações que a mulher e sua família vivem
durante os nove meses. Quer ver? Crescer descreveu como cada pecado ocorre na
vida de uma grávida e, de quebra, dá dicas para evitar cair nas tentações.
Preguiça
Sabemos que a gravidez dá
sono e moleza, principalmente no primeiro trimestre. Mas isso não é desculpa
para ficar parada! Além do mais, a prática de exercícios físicos, quando feita
com a devida orientação, traz muitos benefícios, como a prevenção e redução de
dores nas costas, mãos e pés e de estresse cardiovascular. Ainda desenvolve o
fortalecimento da musculatura pélvica, reduz partos prematuros e cesáreas, dá
maior flexibilidade e tolerância à dor e eleva a autoestima. Antes de sair correndo
no parque ou de malhar na academia, converse com seu médico, pois só ele pode
atestar sua saúde gestacional e liberar a atividade física mais adequada de
acordo com seu estilo de vida. Atividades de alongamento, relaxamento e
fortalecimento dos músculos posturais e do assoalho pélvico devem fazer parte
da rotina da grávida. Nem só de hidroginástica vive a gestante! Essa atividade
é ótima, mas não é a única que ela pode realizar.
Ira
Você havia combinado de ir
ao cinema com o marido, mas ele vai ter que trabalhar até tarde. Há alguns
meses, você diria “tudo bem, amor”, e aproveitaria para sair com as amigas ou
ler um livro. Mas, agora, você solta os cachorros, diz que ele nunca pensa em
você e, quando vê, já está chorando ao telefone. Se isso faz parte do seu
cotidiano desde que engravidou, não se desespere. É tudo culpa dos hormônios! A
gravidez traz para a mulher uma condição hormonal única em sua vida. Por isso,
sensibilidade, choro fácil e momentos de explosão são comuns. Além disso, ela
está se preparando para assumir um novo papel, o que traz inúmeros
questionamentos, medos, inseguranças e expectativas. Construir e assumir novas
funções demandam grandes esforços psíquicos e geram alguns conflitos, portanto,
é normal perder o controle algumas vezes. Mas não dá para deixar que essas
oscilações de humor prejudiquem a sua rotina e seus relacionamentos. Por isso,
é tão importante focar em você e no seu filho. A gestante deve relaxar por
breves momentos do dia. Olhar para o ventre, acariciá-lo e dizer palavras
carinhosas para o bebê proporciona paz de espírito e bem-estar. Isso trará bons
frutos nos momentos que se seguem ao parto e aos primeiros meses de vida da
criança.
Gula
“Estou
grávida, preciso comer por dois!” Esse é um dos grandes mitos que envolvem a
gestação. O mais importante nesse período é a qualidade da alimentação e não a
quantidade. Mas o que é essa qualidade? É uma dieta diversificada, com a
ingestão de verduras, frutas e legumes, e refeições em intervalos menores, de 2
a 3 horas, no máximo. E não adianta comer cenoura todos os dias e achar que já
resolve, é preciso variar. Também recomenda-se evitar gorduras e carboidratos
em excesso. Tudo isso é importante para a sua saúde e a do bebê, além de ajudar
a controlar o ganho de peso. Se você é uma grávida atleta, pode pensar: “Faço
exercícios regularmente, não preciso levar a alimentação tão à risca”. Mas não
é bem assim...
Um estudo recente da Queen
Mary University of London, na Inglaterra, mostrou que uma dieta saudável
durante a gestação é mais eficiente para manter a forma do que fazer
exercícios. Os pesquisadores analisaram 44 estudos, o maior deles feito com 7
mil gestantes.
Observaram os efeitos da
dieta, dos exercícios e da combinação dos dois para saber quantos quilos a
mulher engordava durante a gravidez – e se o bebê sofria alguma complicação. Os
três métodos ajudaram no controle de peso, mas a dieta foi o mais eficiente
deles. “Quando você consome a quantidade de calorias que precisa, não tem
alteração de peso. Já em uma atividade física sem o controle da alimentação, se
você ingerir mais do que o necessário acabará engordando”, explica Fernanda
Seixas, nutricionista da Universidade Gama Filho e especialista em alimentação
da gestante. Ainda segundo dados da pesquisa, a dieta saudável reduziu as
chances de haver pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, pressão alta e parto
prematuro, complicações causadas principalmente pela obesidade.
Ganhar peso em excesso ou
comer pouco estão diretamente ligados à saúde da mãe e do bebê. A ingestão escassa
de alimentos é considerada fator de risco para complicações na gestação, como o
baixo peso ao nascer. Comer demais também é um problema, pois causa a obesidade
materna e tem efeito significativo no aumento das taxas cesarianas e nos
resultados perinatais desfavoráveis.
Vaidade
Toda mulher – ou a grande
maioria delas – sonha em estar sempre linda. Durante a gravidez isso não seria
diferente. Porém, não é saudável preocupar-se excessivamente com a aparência do
corpo em um momento no qual ele está se adaptando para gerar uma vida. “Não dá
para desenvolver um ser em seu ventre, com todas as nuances que isso exige,
pensando no corpo perfeito que deseja ter depois do parto. Durante os nove
meses, todos os olhares precisam estar voltados para um bem maior: a saúde da
mãe e do bebê. Para isso, basta entrar em ação o bom senso e a aceitação para
lidar com as novas formas”, diz a psicodramatista Sirlei Bueno.
Infelizmente, não é sempre
assim. A preocupação com a boa forma durante a gravidez já criou até um novo
termo médico, a pregorexia. Trata-se da anorexia nervosa no período
gestacional, um distúrbio alimentar com causa psicoemocional: o medo de ganhar
peso. Ainda não há consenso sobre isso, mas acredita-se que a mulher tenha uma
baixíssima ingestão calórica, gerando alterações metabólicas que levam ao
emagrecimento extremo e ao consumo de reservas no limite do tolerável pelo ser
humano. O tratamento envolve psiquiatras, obstetra, psicólogo e nutricionista.
Outra preocupação de
algumas mulheres é se os seios vão “cair” depois da amamentação. Algumas até
deixam de amamentar por causa disso! O ginecologista Maurício Grillo explica
que, durante a lactação, o estímulo glandular leva ao aumento da estrutura das
mamas, com sobrecarga dos ligamentos suspensores, mas que isso faz parte da
gestação e que o “prejuízo estético” é infinitamente menor do que todos os
benefícios já conhecidos do leite materno.
“A estrutura da mama perde
um pouco seu vigor, levando a uma discreta flacidez e diminuição de volume, mas
tudo muito de leve”. Para a psicóloga Renata Menezes, há muitos fatores por
trás desses medos, como a pressão imposta pela cultura da perfeição e a
preocupação com a manutenção do relacionamento com o parceiro após o nascimento
do bebê. “Será que ele vai me achar feia?”, “Será que ainda vai sentir desejo
por mim?” Perguntas como essas podem rondar a cabeça da gestante, por isso o
diálogo entre o casal é fundamental para que a mulher sinta-se segura com a
nova imagem. “É importante que ela construa a consciência de que a gravidez é
um processo que envolve mudanças que implicam em muitas transformações físicas.
Então, deve procurar manter a rotina de cuidados pessoais a que se submetia
antes de engravidar, talvez mudando alguns produtos, sempre com supervisão
médica.”
Além da alimentação
saudável e da prática de exercícios (sempre com orientação), você também deve
dar atenção especial à pele. A inundação hormonal que a mulher recebe no início
da gravidez modifica bastante a superfície corporal, aumentando a preocupação
com oleosidade, acne, estria e manchas. Mas, quando adequadamente tratada desde
o primeiro trimestre, dá, sim, para minimizar e até evitar esses sintomas
indesejados. E o melhor é que não há grandes segredos, basta seguir alguns
princípios básicos na sua rotina diária: ingerir bastante líquido, ter uma
alimentação rica em proteínas e pobre em gordura animal, usar protetor solar e
hidratar sempre a pele, principalmente seios (exceto auréolas), face lateral do
ventre, nádegas e coxas.
Soberba
Sim, você está grávida e se sente a mulher mais poderosa de todas. Ainda mais porque virou o centro do mundo, tem preferência em todos os lugares e é elogiada e paparicada por onde passa. Mas cuidado: depois do nascimento há um grande risco de ninguém mais se lembrar de você, só do bebê! Claro que a gestação é um momento único e que merece ser comemorado e vivido intensamente. Mas é sempre importante lembrar que, além de mãe, você também é esposa, cidadã, profissional... “Durante a gravidez, pode ocorrer a hipertrofia de papel, ou seja, a imagem da gestante tende a ficar grandiosa tanto para ela quanto para a sociedade. Porém, isso não é saudável. Se a mulher conseguir direcionar sua atenção para outros setores da vida, provavelmente depois do parto ainda se sentirá plena, mesmo que não receba mais todos os olhares de antes”, afirma Renata Menezes.
Quando o bebê nasce,
também é fundamental continuar trabalhando o lado psicológico, até mesmo para
evitar a depressão pós-parto. Quando o filho, tão esperado durante os nove meses,
chega ao mundo, uma nova relação se estabelece. E isso não é fácil de ser
assimilado.
“Mãe e filho sofrem o
impacto da separação. Nesse momento, a mulher também pode sentir falta de toda
a atenção que recebia e que agora se divide entre ela e o bebê. E, com isso,
desenvolver uma fragilidade emocional e até mesmo uma depressão. É preciso
ficar atenta e, ao menor sinal de que as coisas não vão bem, pedir ajuda aos
familiares ou profissionais. Afinal, esse é o momento em que mãe e bebê
precisam se fortalecer como indivíduos”, explica Sirlei Bueno, psicóloga e
psicodramatista da Associação Paranaense de Psicodrama.
Avareza
Decoração para o quarto, o
carrinho mais moderno, aquelas roupinhas lindas de morrer, cadeirinha... A
lista de desejos é enorme, não é? A vontade é sair comprando tudo, afinal, é
seu filho e ele merece! Mas aí logo vem seu companheiro dizendo: “Mas precisa
mesmo de tudo isso?”. Na maioria das vezes, o “pecado da avareza” não é
cometido pela mulher, e sim pelo parceiro. É ele que quer economizar, fazer a
lista do enxoval só com o básico e nunca gastar a mais do que o planejado.
Paula Laffront é consultora para compras de enxoval em Miami, nos Estados
Unidos. Ela conta que muitos pais a procuram justamente por ser mais econômico
comprar lá e também pela possibilidade de controlar a esposa, já que a personal
shopper faz a lista de acordo com o orçamento previsto pelo casal. Como muitas
vezes a gestante não pode viajar, é o homem quem vai até os EUA para fazer o
enxoval com a consultora, o que já rendeu boas histórias. “Uma mãe de gêmeos
mandou o marido sozinho. Ela me passou dinheiro por fora sem o parceiro saber,
pediu para eu dar notas fiscais separadas e esconder o resto na bolsa do bebê
que ela veria no Brasil. Outra vez, o pai surtou e cancelou as compras, voltou
só com metade das coisas. Também já teve o marido que veio só para agradar a
esposa, mas não queria nem ver os artigos. Ele me deu o cartão de crédito e só
me encontrou no final do dia. Fico sempre no meio do fogo cruzado.” É sempre
bom lembrar que, depois que o bebê nascer, as contas vão aumentar. Por isso,
talvez o homem não esteja tão errado assim quando pensa em economizar desde
cedo. Vale ter bom senso, assim você não gasta com supérfluos, mas também pode
“se dar ao luxo” de um mimo de vez em quando.
Luxúria
Não, sexo NÃO é pecado
durante a gravidez! Existem exceções, como em casos de gestação de risco ou
suspeita de parto prematuro, porém é o médico quem deve orientar. Normalmente,
a mulher tem aumento de libido nessa fase. Segundo Grillo, tal fato se explica
por dois motivos. “O primeiro é a presença da gravidez propriamente dita, pois
o sexo sem receio de engravidar gera uma entrega completa de ambas as partes. O
segundo é a inundação hormonal. Níveis elevados de estrogênio e testosterona
levam a um período de excitação rápido e eficaz, com lubrificação vaginal
fluida e orgasmos intensos.”
Mesmo com maior apetite sexual, algumas mulheres e seus parceiros têm medo de fazer sexo durante a gestação, alguns até com receio de machucar o bebê. Porém, isso não faz sentido, como explica a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, coordenadora do projeto Ambsex e presidente da Associação Brasileira de Sexualidade. “O bebê está protegido dentro do útero e o pênis não chega até lá durante a relação. Ele fica no canal vaginal. É perfeitamente saudável para o casal praticar sexo durante a gravidez, é apenas necessário procurar novas posições e se adequar quando a barriga começa a ficar grande, já que não são todas que serão confortáveis, principalmente no último trimestre.” Ou seja, se tem um pecado que você pode cometer, é esse!
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