Grávidas e crianças devem comer mais peixe
Peixe passa longe do
cardápio na sua casa? Então está na hora de acrescentá-lo ao seu
cardápio! Os órgãos de saúde americanos Food and Drug Administration (FDA) e
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos anunciaram recentemente que o
ideal é ingerir ao menos duas porções de peixe por semana – especialmente
crianças, grávidas e mulheres que amamentam.
“A ciência emergente agora nos diz que
limitar ou evitar peixe durante a gravidez e os primeiros anos de vida da
criança pode significar a perda de nutrientes importantes que têm um impacto
positivo no crescimento e desenvolvimento, assim como na saúde em geral”, disse
o cientista chefe do FDA, Stephen Ostroff, em comunicado. Mas fique
atenta! A recomendação do FDA inclui apenas salmão, atum, camarão e bacalhau,
que possuem baixo teor de mercúrio.
Para entender por que consumir peixe é tão
importante para a saúde, conversamos com duas especialistas: Ana Potenza,
nutricionista clínica do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, e Lenycia
Neri, nutricionista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (FMUSP). Confira:
Grávida pode comer peixe cru,
como sushi, por exemplo?
Ana Potenza: Não,
a grávida não deve ingerir peixe cru. As mulheres grávidas e seus filhos têm
maior risco de desenvolver certas doenças de origem alimentar, como por exemplo
a listeriose, causada por uma bactéria chamada Listeria monocytogene. Essa bactéria pode ser
encontrada em alimentos como peixes, algumas carnes e queijos produzidos a
partir de leite não-pasteurizado.
Por que é importante que a
grávida ingira peixes?
Ana Potenza: O
peixe, incluindo frutos do mar, é um alimento bastante saudável, pobre em
gorduras saturadas e rico em proteínas. É a principal fonte alimentar de dois
ácidos graxos poliinsaturados importantes: o ácido docosahexanóico (DHA) e
ácido eicosapentaenóico (EPA). O DHA tem uma função importantíssima no
desenvolvimento neuropsicomotor do recém-nascido e durante a gestação, além de,
na lactação, melhorar o valor calórico do leite materno. O consumo desses
ácidos graxos durante a gestação está relacionado também com baixo risco para
parto prematuro e, consequentemente, baixo peso ao nascer do bebê. Existem
estudos em andamento mostrando que DHA e EPA podem modular várias vias
biológicas e, portanto, reduzir o risco de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia
e o desenvolvimento de doença alérgica no recém-nascido. A recomendação é de
200 mg de DHA a partir da 20ª semana de gestação até o final da lactação — o que
corresponde a três porções de peixe por semana ou cápsulas contendo essa
quantidade de DHA.
Quais os prejuízos para o bebê
se a mãe não come peixe?
Ana Potenza: O
DHA é um nutriente importante para o desenvolvimento do cérebro, sistema
nervoso e acuidade visual dos recém-nascidos. Sendo assim, a falta desse
nutriente na dieta da mãe pode causar prejuízo no desenvolvimento desses
sistemas.
Se a mulher não gosta de peixe
de jeito nenhum, quais as outras opções para ingerir ômega-3?
Ana Potenza: A
outra opção para ingerir ômega-3 na quantidade recomendada é ingerir cápsulas
desse nutriente. Para isso, a gestante deve procurar o seu médico ou
nutricionista.
A partir de que idade é
indicado acrescentar peixe ao cardápio do bebê?
Lenycia Neri: O
peixe deve ser incluído na alimentação do bebê a partir dos 6 meses, junto com
outros alimentos que complementam o leite materno. Na verdade, antes dos 6
meses a oferta de ácidos graxos essenciais fica por conta da mãe, que, quando
não consome adequadamente peixes na sua alimentação, é orientada a suplementar
com cápsulas de ômega-3 (DHA) durante a gestação e lactação.
O ideal é incluir o peixe no
cardápio quantas vezes por semana?
Lenycia Neri: O
ideal é incluir de 2 a 3 vezes por semana, preferencialmente peixes ricos em
ômega-3, como sardinha, salmão e atum. Além disso, evitar a fritura. O melhor é
optar pelo assado, grelhado ou cozido. Recomendo a mesma quantidade de
consumo para gestantes ou mulheres que estão amamentando. Dessa maneira, elas
irão transmitir, através da placenta ou leite materno, os benefícios para o seu
filho. Caso não seja possível a ingestão de peixes, é importante — tanto a
gestante ou a mãe que está amamentando — fazer a suplementação de
ômega-3 (DHA) nesta fase de formação do sistema nervoso e visão da
criança.
Existe alguma restrição para a
criança comer peixe cru, como sushi?
Lenycia Neri: Não
é indicado para crianças menores de 2 anos o consumo de peixes crus porque elas
ainda estão em fase de maturação do sistema imunológico e não possuem
defesa contra alguns microrganismos. Além disso, o alto teor de sódio, caso
esses produtos sejam temperados com molho de soja, é contraindicado nesta faixa
etária.
Como saber se um peixe tem
baixo teor de mercúrio?
Lenycia Neri: É
importante saber a procedência do peixe, alguns criadouros não são confiáveis.
Além disso, alguns tipos de peixes são mais propensos a acumular mercúrio, como
peixe espada, tubarão e cavala. Os peixes com baixo teor de mercúrio e
confiáveis são salmão, bagre, sardinhas e atum.
Quais os benefícios para a
criança em ter um cardápio rico em peixes?
Lenycia Neri: Cada
vez mais, as pesquisas indicam que o consumo de ômega-3 (gordura essencial
presente nos peixes) faz parte das células nervosas, o que melhora a capacidade
cognitiva da criança, além de ajudar no desenvolvimento da retina, ou seja, da
visão do bebê.
E quais os prejuízos para uma
criança que não come peixe nunca?
Lenycia Neri: É
importante que a criança seja estimulada sempre a consumir todos os grupos de
alimentos. A falta de algum grupo de alimentos pode ocasionar a perda de
nutrientes. No caso dos peixes, pode haver déficit cognitivo ou de
desenvolvimento visual.
Tem alguma dica para aquelas
crianças que nem experimentam e já anunciam que não gostam de peixe?
Lenycia Neri: Isso
é muito comum em determinadas faixas etárias. É importante levar a criança para
a cozinha, mostrar como são os alimentos e, se possível, pedir para ela ajudar
no preparo. É uma maneira divertida de familiarizá-la antes da
refeição. Outra dica é sempre oferecer o alimento que for novidade no
início da refeição, pois a criança estará com mais fome e, possivelmente,
aceitará com mais facilidade.
Manuela Macagnan
Comentários
Postar um comentário